quarta-feira, 29 de maio de 2013

Quais tradições policiais nos servem?

 

O pensador clássico Max Weber considerava a tradição como uma forma de dominação. Em seu Dicionário de Conceitos Históricos, a professora Kalina Vanderlei diz que, para Weber, “os comportamentos tradicionais são formas puras de ação social, ou seja, são atitudes que os indivíduos tomam em sociedade e são orientadas pelo hábito, pela noção de que sempre foi assim. Nessa forma de ação, o indivíduo não pensa nas razões de seu comportamento. O comportamento tradicional seria, então, uma forma de dominação legítima, uma maneira de se influenciar o comportamento de outros homens sem o uso da força”.

Já que se fala muito em “respeito às tradições” no âmbito policial, principalmente nas polícias militares – algumas delas constando este item até como norma formal -, é bom questionarmos qual a validade da presença deste entendimento nas nossas corporações. Ou seja: o que, entre nós, podemos entender que “sempre foi assim” e que não é passível de questionamento de suas razões? Quais elementos da cultura policial não podem ser alvos de crítica, sendo aceitos por comodidade?

Considerando as instituições policiais como coisa pública, dificilmente parecerá razoável admitir que algo em suas estruturas esteja imune à observação crítica e questionadora. Já que as polícias estão a serviço da sociedade, e o desempenho de uma função social é o serviço da polícia, passa a ser problemático admitir tradicionalismos – na medida em que se entende como tradição aquilo sobre o que nem sequer pode-se refletir.

Mas é preciso dar um passo atrás (ou à frente). Existem elementos culturais capazes de unir, agregar e impulsionar a motivação dos policiais militares: solenidades, comemorações, companheirismos, reconhecimentos etc. Reforços positivos que, sim, são úteis e contribuem para a o fim social da atividade policial. Se tais elementos são tomados como tradição – mais pelas suas antiguidades que por uma pretensa inquestionabilidade – vale a pena ser “tradicional”, nesse sentido.

Parece lúcido dizer que apenas aquelas “tradições” que não envolvem a manipulação de direitos e deveres podem ser aceitas, pois tudo que envolve a economia do permitido e proibido, tudo que tira ou gera direitos deve estar, sempre, sob o fogo cruzado dos argumentos, em prol da dignidade do ser humano e da justiça social. Sendo assim, desconfie quando algo aparentemente sem sentido e injusto é defendido como “tradição”. Provavelmente, como diria Weber, trata-se de dominação.

Fonte: Abordagem Policial

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