quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Retorno de policiais se restringe a ALE

ANDREZZA TRAJANO (FOLHABV)


Ao que tudo indica, trata-se mesmo de uma retaliação à presidência da Assembleia Legislativa (ALE), os pedidos das polícias Militar e Civil, para que devolva aos órgãos de origem os profissionais de segurança que estão à disposição da Casa. A mesma solicitação não foi feita a outros órgãos públicos, que igualmente têm policiais sob sua tutela.
Existe uma crise instalada entre os poderes Executivo e Legislativo, em razão do processo eleitoral. Mas até então a problemática se limitava ao palanque político. Agora, invadiu a esfera administrativa e transformou-se em uma “queda de braços”.


A questão é tão polêmica, que o comandante geral da Polícia Militar, Gleisson Vitória da Silva, sequer quis se pronunciar sobre o assunto ao ser procurado ontem pela Folha.  Em ofício enviado ao presidente da ALE, Mecias de Jesus (PR), no último dia 20, ele requisita no prazo máximo de 24 horas a apresentação de 14 policiais militares. O motivo alegado no documento feito à ALE, é de que esses policiais reforçarão a segurança nas eleições.
Vitória também não quis informar se requisitará o retorno de policiais militares que estão à disposição de outros órgãos, de magistrados e parlamentares federais.


Já o delegado-geral da Polícia Civil, Eduardo Wayner Brasileiro, informou por meio de nota, “que fará um levantamento e conforme a necessidade requisitará os demais policiais [à disposição de outros órgãos] para reforçar o efetivo que trabalhará nas eleições, a exemplo da Assembleia Legislativa, instituição da qual foi solicitado o retorno de 12 policiais, que retomarão as atividades na Polícia Civil e no apoio às ações da Segurança durante as eleições”.


O clima de instabilidade saiu do campo dos poderes e chegou as ruas. A leitora Luana Coutinho enviou e-mail ao jornal, indagando a possível retaliação do governo a Assembleia.


“Já que todos os militares trabalharão para reforçar a segurança nas eleições, acredito que o mesmo documento que o presidente da ALE recebeu, os presidentes e responsáveis do Tribunal de Justiça, Ministério Público Estadual e Palácio Senador Hélio Campos tenham recebido também, pois existem policiais igualmente a disposição destes órgãos. Se isso realmente for feito, com certeza teremos muitos militares nas ruas fazendo nossa segurança”, ponderou.


Outra leitora que pediu anonimato por temer represália, destacou que 11 policiais civis estão à disposição do Detran (Departamento Estadual do Trânsito), atuando em serviços burocráticos. “E esses policiais, será que não fazem falta à segurança pública?”, indagou.


A assessoria de Comunicação da Assembleia Legislativa informou que será preciso que o governo do estado vá buscar na Justiça o direito ao retorno dos policiais aos seus órgãos de origem, uma vez que vai mantê-los na Casa.
“O Legislativo é um órgão do estado e, como tal, a segurança do Poder, de seus membros e dos que frequentam a Casa, é do próprio estado”, disse, ao avaliar o pedido como “inédito e esdrúxulo”.


A assessoria destacou ainda que os pedidos tratam-se sim de uma “retaliação, onde o governo não tem condições de separar o que é atividade de campanha eleitoral com ação do Executivo e interesse do cidadão”.  

REQUISIÇÃO - Conforme o ofício enviado pela PM a Assembleia Legislativa, dos 1.563 policiais militares integrantes da instituição, 1.200 estão em atividade. Os demais estão em dispensas, licenças e a disposição de outros órgãos.


Para a Associação dos Policiais e Bombeiros Militares (APBM), a atitude do comando-geral representa “o uso da máquina pública e falta de respeito entre os poderes”. A APBM observa que mesmo o policial estando à disposição, ele está trabalhando. “Essa situação mostra que a instituição policial não está para servir a sociedade, mas a interesses políticos”, resumiu.
A associação denunciou ainda que a “retaliação” do governo não se limita a Assembleia Legislativa. Enfatizou que diversos policiais foram transferidos de seus locais de trabalho depois de terem declarado apoio ao grupo de oposição.


Citou como exemplo os comandantes das companhias de Rorainópolis e Caracaraí, que supostamente foram transferidos depois de declararem seus votos e o caso de um policial lotado em Iracema, que foi retirado do município após multar um cabo eleitoral do governo.


Ainda teriam sido transferidos dos seus postos de trabalho um policial militar lotado em Campos Novos, no município de Iracema, e outro de Caroebe, ambos por terem opções políticas contrárias ao comando-geral. Até a promoção de dois capitães ao posto de major, segundo a APBM, estaria condicionada ao “desempenho” deles nas eleições.

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