Por: Tom Zé Albuquerque *
Certo dia ouvi de um colega de trabalho sua indignação em não entender o porquê de tantas pessoas afirmarem que “servidor público não trabalha!”. A verdade em si percorre o campo da falta de comprometimento do contratado aliada à má gestão dos superiores, o que ocasiona a famigerada consequência na qual muitos servidores públicos se desdobram em sua atividades a compensarem por aqueles vários que apenas enrolam.
Este fato, em alguns órgãos públicos, não mais sobrevive pela exceção, mas na regra, tornando difícil assim a separação de quem produz e quem só quer baldear. É o que Max Gehringer chama de funcionário-joio, que não contribui e contamina. O joio era uma erva daninha (já erradicada há séculos) tóxica, que crescia no meio das plantações de trigo; e caso fosse moída junto com o trigo, por menor quantidade que seja, todo ele estaria contaminado. Mas o mesmo autor enfatiza que o danoso joio somente foi extirpado nas plantações, mas não nas empresas.
E Gehringer detona: “Um único funcionário-joio é capaz de envenenar todo o ambiente de trabalho”. Imagine, então, num clima de fofocas e intrigas... o funcionário-joio é um parasita que quase ou não trabalha, enquanto os funcionários-trigo criam raízes, se doando ilimitadamente em prol dos cidadãos, seus clientes. “Qualquer empresa é capaz de separar o joio do trigo. Só que algumas, por não entenderem de botânica, aproveitam o joio e desprezam o trigo”, complementa o autor.
Essa peculiaridade ancora-se na filosofia do humanista, político e filósofo inglês, Tomás Morus, ao defender que todos os cidadãos são iguais entre si, todos se revezam nos trabalhos, que é dividido de tal forma que impede o surgimento de diferenças sociais. Morus suscita ainda que “... ninguém se entregue ao ócio, mas que todos cumpram o seu próprio dever se empenhando ao máximo”. A sua explicação traz: “Somemos ainda os seus servidores, ou seja, aquele bando de vagabundos e espadachins desocupados que os cercam. A esta altura vos darei conta de que efetivamente as coisas de que os homens necessitam para viver são produzidas pelos trabalhos de poucos...”.
Outra peculiaridade do funcionário-joio, ou melhor, servidor-joio, é a capacidade burlesca e risível de defender sempre a supremacia do interesse público. Geralmente é assim, conforme brilhantemente diagnosticou o filósofo e médico Ruy Guilherme: “Quando vires alguém defender muito determinada coisa, fato ou princípio, em verdade, se está criando uma defesa própria ante a uma anomalia ou fragilidade latente”. Esse processo de auto-blindagem é nojento, e não raro, é propalado em defesa da ética.
Por isso, nos órgãos públicos existem geralmente, a cada dez servidores, dois que se desdobram para que as ações aconteçam, seis trabalham no trivial e dois ora lutam para brecar aquilo que é produzido, ora se escoram em algum setor ou atividade na manutenção de sua indolência ou status quo. Estes não sobrevivem pela bestialidade, mas pelo comportamento animalesco, tal qual uma hiena faminta em predadar.
* Administrador – adm.tom.albuquerque@gmail.com
Fonte: Opinião (FolhaBV)
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