quinta-feira, 16 de junho de 2011

Quanto pior, melhor?


Por: Jessé Souza *

Com certeza, todos já ouvimos falar da política do “quanto pior, melhor”. Não se trata de conto da Carochinha, como diria meu pai. Trata-se de um fato político que ocorre em Roraima desde tempos remotos. E não se trata somente de uma torcida para que fique pior, mas de ações concretas de alguns políticos que querem tirar vantagem disso.

O inverno desse ano somente aflorou a política do “quanto pior, melhor”. Os políticos arregalaram os olhos e coçaram as mãos diante da possibilidade de vir uma montanha de recursos para “reconstrução de Roraima”.

Eles adoram falar assim.

As enchentes mostraram as “obras Sonrisal”, aquelas que se derretem com as chuvas, mas anualmente os políticos se mostraram hábeis para inverter a realidade, fazendo a sociedade a acreditar que o caos tem a natureza como única responsável e culpada.

Como nunca ninguém contestou esses fatos, as autoridades correm com suas fotos e relatórios para o Governo Federal a fim de pedir mais recursos para obras que nunca são executadas. “Quero mais recurso”, “Quero mais dinheiro para a BR-174”, “Queremos cacimba”, “Queremos caixa d’água”, “Queremos pontes”.

A cada inverno há uma torcida para que o caos se instale e os cofres da União se abram como enxurrada de inverno. Para a alegria dos empreiteiros, dos políticos donos de empresas e de governantes com suas porcentagens.

O mesmo ocorre com os buracos nas estradas federais, estaduais e vias urbanas. Deixam que o caos se instale para justificar um alarde aos ouvidos do paizão Governo Federal para que libere “verbas emergenciais”, as quais enchem os bolsos das empreiteiras e de políticos.

As obras mal feitas não apenas são resultado de propinagem, que engole boa parte dos recursos e inviabiliza obras de qualidade, como também esses serviços meia-boca servem para gerar transtornos e caos a cada inverno e a cada verão. Tudo é arquitetado e nunca questionado.

Até mesmo o clima de Roraima bem definido contribui para a política do “quanto pior, melhor”. No verão, os políticos torcem (ou atuam) para que as queimadas ocorram a fim de que possam pegar mais grana. No inverno, torcem para que as enxurradas arranquem bueiros e partam estradas.

A atuação para que o caos se instale sempre serviu para alimentar os maus políticos e consumir os recursos que deveriam ter sido aplicados para solucionar os problemas estruturais do Estado. Como ninguém ousa contestar isso, continuamos a viver os mesmos pesadelos como se estivéssemos no “Vale a pena ver de novo”.

Enquanto choramos as desgraças, nesse momento há alguém (ou alguns) com sorriso no canto da boca, porque o caos gera muita grana para ser partilhada no botim político.

* Jornalista - jesse@folhabv.com.br - Twitter: http://twitter.com/JesseSouza

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