Muito se ouve o discurso de que as polícias militares são instituições que possuem como princípios basilares a hierarquia e a disciplina, onde se defende o acatamento às normas e o respeito aos superiores hierárquicos. Até aí, nada mal, afinal, até mesmo as organizações privadas adotaram como modelo de eficiência este paradigma – ou alguém acha que uma empresa de sucesso permite desacatos e indisciplina por parte dos seus funcionários?
O que chama a atenção, entretanto, é que tal discurso, na maioria das vezes, é sustentado somente para justificar reforços negativos, enquanto é convenientemente esquecido quando se trata de reforços positivos. Em poucas palavras, quando o momento é de punir e repreender, surgem a hierarquia e a disciplina como valores fundamentais. Quando o momento é de fomentar a ascensão funcional e respeitar direitos, relativismos e flexibilidades aparecem.
Falando especificamente do cultivo da hierarquia, não há como mantê-la adequadamente sem que os policiais sejam promovidos aos postos e graduações nas épocas previstas. Manter por muito tempo um policial em determinado posicionamento funcional é atingir sua motivação, desrespeitar o trabalho prestado à instituição, e permitir a descrença no essencial da organização hierárquica.
No Brasil, há casos de PM’s em que policiais passam mais de vinte anos na mesma graduação, sem falar nas ocasiões em que alguns são privilegiados com promoções em tempos bem mais curtos que a maioria dos seus pares. Nada contra a premiação à excelência e aos destaques: o problema são as distorções que são apresentadas como se excelência e destaque fossem.
Este é um contraponto sempre necessário ao discurso do binômio hierarquia-disciplina: ele serve apenas para repreender ou faz parte do conjunto de valores institucionais, influenciando decisões inclusive no campo de valorização profissional?
Fonte: Abordagem Policial
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