Por: Jessé Souza *
Faço caminhada cedo da manhã no complexo Ayrton Senna, por volta das 5h30, quase que diariamente. E um dos fatos que mais tem chamado minha atenção é o número de pessoas dormindo no chão dos quiosques ou nos bancos das praças. Dia desses, contei uns cinco num único dia.
Somente pelo aspecto dessas pessoas, dá para perceber que elas são usuárias de drogas que chegaram ao fundo do poço. Pelo menos dois deles eu conheço. Um estudou comigo na infância e “vigia” carro durante o dia. Outro conheço da minha adolescência, dos campos de futebol, mas pouco sei da vida dele.
Há também um engraxate, talvez o único que restou, um rapaz que diz que não tem família em Roraima. Pelo menos esse está trabalhando e nunca o vi pedindo dinheiro entre os clientes de bares e restaurantes.
Existe uma mulher entre esse pessoal que perambula pela cidade. Agressiva, ela já ameaçou agredir vendedores de loja e populares na avenida Jaime Brasil, quando a negam dinheiro. Em um dos surtos, a vi trocando de roupa em pleno movimento do centro comercial, sob os olhares estupefatos dos transeuntes.
Também há um garoto de não mais que 12 anos. Esse já enraizou nas permissividades das ruas. Só fala na base da “gíria de malandro”, pede dinheiro de que quem quer que seja e, quando “vigia” carro, chega a ameaçar quem opta em não dar dinheiro para ele. Esse garoto já foi até personagem de um artigo meu do passado.
Eis aí o contexto do que a droga está fazendo com as pessoas. Sabemos desses casos porque eles são flagrantes e, maltrapilhos e pedintes, tais personagens acabam nos incomodando na hora de nosso lazer e farra. Mas por que até agora não incomodaram as autoridades?
Todo esse pessoal compra drogas no Beiral, onde qualquer cidadão pode observar a cena a qualquer hora do dia e da noite. Somente a polícia que não consegue enxergar, pois precisa de uma operação policial de vez em quando para agir. E ainda assim só prendem os traficantes pés de chinelo.
Mas o Beiral é apenas um desses locais. A droga tem dominado setores da sociedade e, com o desaparelhamento policial em todos os níveis, tem sido difícil combater o avanço dos traficantes. Nossas fronteiras abertas pela falta de estrutura para os agentes federais trabalharem são um prato cheio para o narcotráfico.
Enquanto as autoridades brigam pelo aparelhamento das instituições policiais, compete a nós, os pais e a sociedade de uma forma geral, salvar nossos filhos. Só para lembrar, a droga tem acossado as escolas públicas, as quais pedem socorro sem que as autoridades dêem a devida atenção.
É preciso que a sociedade esteja atenta à prevenção, ao trabalho educativo com as crianças e adolescentes. Os andarilhos vítimas do tráfico são o termômetro do que pode acontecer com nossos filhos. A violência urbana é o sinal vermelho de que qualquer um de nós pode ser vítima da criminalidade. Então, fiquemos de olhos bem abertos. Essa batalha não podemos perder.
* Jornalista - jesse@folhabv.com.br - Twitter: http://twitter.com/JesseSouza
Fonte: Folha de Boa Vista
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