quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Associação diz que PM não presta auxílio a policiais dependentes de álcool e drogas

Um dos policiais que enfrentam o problema do alcoolismo é lotado no CPC

ANDREZZA TRAJANO

Não há como traçar um perfil de usuários de drogas e álcool. Há tempos pessoas de diferentes classes sociais abusam desses itens, tornando-se dependentes. Até em instituições militares não é difícil encontrar profissionais em tratamento ou se entregando ao vício.

Mas na Polícia Militar, segundo a Associação dos Policiais e Bombeiros Militares (APBM), existe uma criminalização do alcoolismo. A corporação, diz a entidade, não reconhece o consumo de bebidas alcoólicas em excesso nem uso de entorpecente como doenças. Tampouco, relata, oferece tratamento médico.

Segundo a APBM, o caso recente envolvendo um soldado lotado no Comando de Policiamento da Capital (CPC) retrata bem essa questão. “O policial vem sofrendo sérios problemas por ser portador de alcoolismo. O mesmo afirma que, devido aos oito anos de serviços na PM, sob forte estresse próprio da atividade, bem como com uma escala de serviço excessiva e sem as adequadas condições mínimas de trabalho, recorre ao álcool para aliviar a angústia e esquecer a falta de valorização profissional que padece”, diz a associação, em nota.

A APBM afirma que, em razão do alcoolismo, o policial cometeu algumas infrações administrativas e está respondendo a um processo administrativo disciplinar (PAD) para verificar se está em condições morais e éticas de permanecer nas fileiras da corporação. Entretanto, conforme a associação, “em nenhum momento a instituição militar ofereceu ajuda para resolver o problema”.

“Dentro da Polícia Militar a problemática do uso abusivo do álcool não é recente: alguns casos ganharam notoriedade, como a do então comandante-geral [Márcio Santiago] que foi detido por policiais militares em Brasília e no caso do oficial que efetuou um disparo contra um segurança de uma boate”, afirmou Quésia Mendonça, coordenadora-geral da APBM, acrescentando que “nos casos que envolvem policiais de baixas patentes o que se observa é a criminalização da conduta, esquecendo-se do fator médico e social”.

A Associação de Policiais e Bombeiros Militares lembrou ainda que não apenas o álcool, como também as drogas químicas são de uso recorrente entre alguns policiais.

PM – A reportagem ligou para o celular do comandante-geral da PM, coronel Gleisson Vitória, e para o comando-geral, porém nenhuma das chamadas foi atendida.

Já o subcomandante do Comando de Policiamento da Capital, tenente-coronel Barros Oliveira, negou que exista desamparo ao policial militar citado na reportagem. Segundo ele, não há nenhuma comunicação formal ou extraoficial de que o policial em questão esteja sofrendo de alcoolismo.

Ele disse que em sua unidade, ao menos quatro policiais estão afastados de suas atividades por dependência do álcool ou drogas. Esses policiais estão em tratamento no Serviço de Assistência à Saúde (SAS/PM).

“Quando chega ao nosso conhecimento, através do comandante ou da família do policial, nós o encaminhos para atendimento médico e o afastamos do trabalho. Só que muitos não completam o tratamento e voltam a trabalhar, até terem uma recaída”, disse.

Conforme o coronel, o trabalho do policial militar é estressante, porém não é o único fator que resulta na dependência. Problemas de cunho social e familiar também contribuem para o surgimento da doença.

“Procuramos ajudar, mas não podemos obrigar o policial a fazer o tratamento médico. Estou cansado de sair de minha sala e mandar um policial se tratar, mas precisamos que ele também queira se ajudar”, pontuou.

Estado mantém unidade de tratamento para dependentes de álcool e drogas

Pessoas dependentes do álcool ou quaisquer outros tipos de drogas e que precisam fazer o tratamento para abandonar o vício têm a opção de atendimento, na capital, pelo Centro de Atenção Psicossocial para transtornos decorrentes de Álcool e outras drogas (CAPSad), mais conhecido como Centro de Recuperação e Promoção Humana (CRPH).

Vinculado à Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), o CAPSad trata pacientes que fazem uso de álcool e outras drogas. O paciente é atendido por uma equipe multiprofissional, entre eles, assistente social e psicólogo. Após o atendimento ambulatorial, eles são submetidos a uma avaliação psicossocial.

Hoje, em média, 22 dependentes químicos, sendo a maioria pessoas com mais de 30 anos de idade, estão em tratamento.

Na unidade, as pessoas são orientadas, pelos profissionais de saúde, sobre os perigos que representam o vício. A equipe desenvolve trabalho permanente na prevenção e no tratamento dos casos, além de realizar terapia em grupo e acompanhamento individual aos que procuram ajuda.

A família do paciente também participa da recuperação do usuário. Quando isso ocorre, as chances de sucesso no tratamento são maiores. Para isso, a família também recebe acompanhamento psicossocial. Com ela, desenvolve-se a metodologia do amor exigente, no qual, os profissionais de saúde trabalham na prevenção de possíveis casos nas famílias de onde já existem dependentes químicos e recuperação dos pacientes.

Quem tiver interesse em participar das reuniões e encontros do CAPSad, pode procurar a unidade, que fica na rua Sócrates Peixoto, 138 – Jardim Floresta. O telefone para contato é 3627 3023. Funciona de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18h.

Fonte: Folha de Boa Vista

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