segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Terra de coroneis

 

Jessé Souza *


A absolvição dos coroneis r da acusação de desvio de R$ 1,4 milhão, no julgamento encerrado nas primeiras horas da madrugada de ontem, é o exemplo do que Roraima ainda é capaz quando se fala em injustiça ou manutenção do “tudo pode” na “terra de muro baixo”.

Pelo resultado do julgamento dos oficiais - cujo caso somente um soldado foi condenado à prisão e perdeu o emprego - significa dizer que um reles soldado detinha todos os poderes para manipular, pagar, receber e desviar.


Significa que oficiais de alta patente entregavam tudo nas mãos de um simples soldado, que tudo fazia, ao seu bel-prazer. Significa que na Polícia Militar esse é um único caso em que um praça teve poderes mais absolutos do que os seus superiores.

A PM tem, hoje, três legítimos representantes na Assembleia Legislativa. Trata-se de um evento a ser bem analisado pela sociedade, pois se o eleitor vota em militares para que o representem no Legislativo, isso quer dizer que ele confia na instituição que esses parlamentares representam.

O cidadão confia na Polícia Militar de Roraima, apesar dos maus policiais, dos truculentos, dos corruptos e dos que não levam a instituição a sério – e esses são minorias, assim como são minorias os profissionais irresponsáveis em qualquer profissão, inclusive a de jornalistas, onde também existem os canalhas.

Mas o resultado desse julgamento tem um significado muito mais amplo do que se pensa. Ali os jurados decidiram que Roraima ainda é terra de coroneis, que a justiça é para condenar somente os pequenos (pobres, pretos e prostitutas) e que a instituição militar insiste em não querer se depurar.

Em artigos passados, comentei que os desmandos do passado estão adormecidos em algum lugar. E basta que alguém estale os dedos para que os fantasmas apareçam na sala de estar. Sempre foi assim com a censura, com a violência institucional, com os desmandos e corrupção... e assim por diante.

Roraima está longe de se livrar desse passado sombrio, onde a lei sempre foi aviltada e usada para beneficiar quem está no poder, onde os que se atreveram a atravessar o caminho dos poderosos pagaram caro, inclusive com a vida.

Aqui, os governantes se acham donos do poder, o político usa o mandato para benefício próprio, a autoridade estufa o peito se achando no reinado e a Justiça usa seu cajado somente contra quem não tem posses e influência.

Está longe de Roraima deixar de ser a terra de coroneis. Ainda não conquistamos sequer a liberdade de expressão plena nem conseguimos sair da fila do assistencialismo. Estamos presos em um lamaçal que insiste em não secar, embora tenhamos avançados muito nos últimos anos. Infelizmente, essa é a realidade que sorrir de nossa cara.

* Jornalista - jesse@folhabv.com.br - Twitter: http://twitter.com/JesseSouza

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