quarta-feira, 17 de março de 2010

Autocrítica policialesca

 

Autor: Victor Fonseca

É necessária alta dose de coragem para dar início a um exercício de auto-crítica. Muitos dogmas tidos como pétreos parecem fadados a perpetuar o impedimento de sua (re)análise sob nova ótica. Motivar discussões nesse âmbito é atividade de alto risco, sob pena de ser taxado como um traidor da causa, mas nem por isso deve ser mantida a sina da complacência cúmplice.

Em outras palavras, é bem sabido que “roupa suja se lava em casa”, mas se na casa não for aberto espaço para franco diálogo, nunca se irá adiante. Perpassa-se um caminho tortuoso na busca pelo aperfeiçoamento através da discussão, e poucos, pouquíssimos, estão interessados em enfrentar o desafio.

Nem toda morte de policial militar deve ser lamentada com tanta profundidade.

Do ponto de vista da preservação da vida, até que se admite a concepção de que nada é mais precioso do que este bem tido como inviolável pela nossa Constituição; igualmente no aspecto institucional, a morte de um dos seus integrantes sempre será vista como um enfraquecimento ao corpo. Mas a cada nova manchete, por que não se questionar, despretensiosamente, quem foi que morreu? Onde, quando, por que, em quais condições? Qual seu passado, histórico, hábitos, companhias, costumes…? Feito isso, tomando conhecimento (semi)pleno do assunto, aí sim é possível emitir um juízo de valor sobre o acontecido. O que se busca evitar são, por exemplo, as eternas indagações de “Até quando?” ou “Cadê os direitos humanos” diante da primeira manchete de óbito, sem se inteirar verdadeiramente das variáveis envolvidas no episódio. (Nota: a reflexão também é válida para situações onde policiais militares são presos pela acusação do cometimento de algum crime)

A culpa é sempre dos outros, todo mundo se sente vítima.

É confortável e descomplicado o exercício da imputação de responsabilidade a quem quer que seja, deixando-se de assumir eventual parcela de culpa em algum insucesso. As falhas na prestação do serviço de segurança pública à sociedade são frutos da ineficiência de quem? Da dupla de PO ou do secretário de segurança pública? O mais fácil nessas horas é “passar a bola” e, em vez de buscar soluções alternativas diante dos meios e condições oferecidas, opta-se por cruzar os braços e “deixar rolar”. Pare, pense, reflita, seja capaz de identificar honestamente o peso da responsabilidade que recai sobre seus ombros.

Crescem os defensores do macete, “operação boticário”, ou seja lá como se queira chamar as artimanhas empreendidas de modo a se esquivar do serviço.

É o combatente, enquanto se vangloria de enganar o comando, lesar a escala, descumprir o previsto e sabotar o processo, ignora completamente o modo como isso interferirá na integridade dos seus semelhantes, sejam eles colegas, familiares, amigos ou quaisquer desconhecidos. Que seja incessante a luta de cada um por melhores condições, porém se não mais houver motivos para que se continue na jornada, a hombridade recomenda o cônscio abandono da missão, de modo aberto e explícito, e não sob disfarces e engodos dia após dia

(Não) Experimente iniciar um debate propondo que a classe policial, pelas características da sua profissão, é digna de receber remuneração bem superior ao que atualmente é oferecido, mas muitos policiais militares, na medida da sua individualidade, ainda não são merecedores sequer do que percebem atualmente ao fim do mês; o resultado certamente será de duras reprimendas e censura definitiva.

Ouse assumir que as falhas no processo de formação tornam integrantes da instituição demasiadamente amadores, carecendo de um grau mais elevado de profissionalismo e conhecimento técnico, e logo você será descartado e discriminado.

Assim é praticamente impossível romper com antigos vícios e construir uma nova identidade.

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